Título original: Getting the Girl
Autor: Markus Zusak
Editora: Intrínseca
Tradutora: Vera Ribeiro
Ano: 2013
Páginas: 176
O Rube nunca amou nenhuma delas. Nunca se importou com elas. Nem é preciso dizer que Rube e eu não somos muito parecidos em matéria de mulher. Cameron Wolfe é o caçula de três irmãos, e o mais quieto da família. Não é nada parecido com Steve, o irmão mais velho e astro do futebol, nem com Rube, o do meio, cheio de charme e coragem e que a cada semana está com uma garota nova. Cameron daria tudo para se aproximar de uma garota daquelas, para amá-la e tratá-la bem, e gosta especialmente da mais recente namorada de Rube, Octavia, com suas ideias brilhantes e olhos verde-mar. Cameron e Rube sempre foram leais um com o outro, mas isso é colocado à prova quando Cam se apaixona por Octavia. Mas por que alguém como ela se interessaria por um perdedor como ele? Octavia, porém, sabe que Cameron é mais interessante do que pensa. Talvez ele tenha algo a dizer, e talvez suas palavras mudem tudo: as vitórias, os amores, as derrotas, a família Wolfe e até ele mesmo.
É muito bacana porque nesse livro Cam começa a se questionar sobre seu futuro, bem sutilmente, a partir das evoluções que seus irmãos parecem estar experimentando, enquanto ele continuava – a seu ver – o mesmo. Ele descobre, e nos dá a entender no decorrer da história, o seu amor por escrever, e sua aptidão. É algo que a princípio ele mantém para si mesmo. No 1° livro ele tem os sonhos, no 2° livro reflexões e conclusões – em pensamento – de coisas que aconteceram com ele durante o dia, neste livro ele põe no papel os seus sentimentos a respeito de determinadas situações.
Muito rapidamente, muito de repente, as palavras caíram de minha mente. Elas aterrissaram no chão dos meus pensamentos, e enquanto lá, lá embaixo, eu comecei a coletá-las. Elas eram trechos da verdade que jazia dentro de mim.
– Foi a melhor coisa que alguém já me deu. – ela disse, levantando a concha e me encarando através do buraco no meio dela. Ela me beijou de novo, um beije leve na boca e então no meu pescoço. Ela sussurrou no meu ouvido. – Obrigada, Cameron.
Eu amava os lábios dela, principalmente quando a luz do sol os iluminava e ela sorria para mim. Eu nunca tinha a visto sorrir daquele jeito quando estava com Rube, e eu torcia para que fosse um sorriso que ela nunca daria para outra pessoa neste planeta.
Inclusive, são engraçadas as passagens – no primeiro livro– em que ele reza por pessoas que, sinceramente, mal conhece e nem se lembrariam dele depois. E nesse livro quando reza por Octavia. Mesmo não sendo tão religioso, apenas mostrava como ele se importava. E como ele é, de fato, especial. Ele é fofíssimo, a forma como ele a descreve, como a enxerga e como a trata, não há como alguém ler e não desejar que fosse vista assim pelos olhos de alguém.
Quando o trem se foi eu permaneci ali parado, eventualmente percebendo o frio que fazia na plataforma. Então algo me ocorreu.
Meu espírito.
Ele tinha sumido.
Eu procurei por ele por toda a parte, até que percebi. Ele não tinha saído do trem comigo. Ainda estava dentro do vagão, com Octavia.
Eu disse a Steve: – Não se preocupe, irmão. Eu não preciso que você diga a Sal que não sou um perdedor. Eu não preciso que você diga para mim também. Eu sei o que sou. Eu sei o que vejo. Talvez um dia eu te fale um pouco mais sobre mim, mas por agora, eu acho que precisamos esperar para ver o que acontece. Eu não sou nem de longe o que eu ainda vou ser, e… – Eu podia sentir algo dentro de mim. Algo que sempre havia sentido. Pausei e olhei dentro de seus olhos. Eu os atravessei pela porta e o mantive ali. – Você já ouviu um cachorro chorar, Steve? Você sabe, uivando tão alto que é quase insuportável? – Ele assentiu. – Eu acho que eles uivam assim porque eles têm tanta fome que chega a doer, e é isso o que sinto dentro de mim todos os dias. Eu tenho tanta fome de ser algo… De ser alguém. Você entende? – Ele entendia. – Eu não vou baixar a cabeça. Não para você. Não para ninguém. – Concluí. – Eu tenho fome, Steve.